O que está em jogo
Nas últimas semanas, a Primeira-Dama da França, Brigitte Macron, e o presidente Emmanuel Macron transformaram uma teoria conspiratória online em caso judicial. Eles entraram com um processo de difamação nos Estados Unidos contra a influenciadora conservadora americana Candace Owens, que vem sustentando que Brigitte teria nascido homem, sob o nome de Jean-Michel Trogneux— nome que, na realidade, pertence ao irmão dela.
A acusação inclui ainda que Owens ― por meio de podcast, vídeos e redes sociais ― espalhou outras alegações não comprovadas envolvendo incesto, manipulação de poder, e teorias conspiratórias ligadas à CIA.
A dinâmica da disputa judicial
O processo foi aberto em julho de 2025 no Superior Court do estado de Delaware, nos EUA. É um processo com 218 ou 219 páginas, em que os Macrons solicitam julgamento por júri e pedem indenização por danos punitivos.
A justificativa legal é que Owens teria divulgado declarações falsas com malícia real (“actual malice”) — ou seja, sabendo ou com desprezo consciente pela verdade.
Brigitte Macron já vinha de uma disputa judicial na França: em 2021, duas mulheres foram condenadas por difamação por terem publicado vídeo afirmando a mesma fake news sobre ela ser transsexual. Mais recentemente, entretanto, a Corte de Apelações de Paris absolveu essas duas ré, decisão que Brigitte e sua família recorreram junto ao Supremo Tribunal
Que provas serão apresentadas
Segundo o advogado de Brigitte Macron, Tom Clare, serão apresentadas provas fotográficas e científicas no tribunal, para demonstrar de forma clara e inequívoca que ela nasceu mulher.
Essas provas incluem:
Fotografias da infância de Brigitte com sua família;
Registros de nascimento e anúncios de nascimento;
Imagens do período em que ela estava grávida ou cuidando de seus filhos;
Testemunhos de especialistas que possam atestar aspectos biológicos e históricos relacionados ao gênero.
A importância do caso
Este episódio salienta vários temas mais amplos:
1. Fake news & desinformação: como teorias conspiratórias podem evoluir, ganhar tração em redes sociais e causar danos reputacionais sérios.
2. Extrema-direita & ideologia: parte das acusações parece ligada a discursos de deslegitimação de figuras públicas através do gênero, identidade e sexualidade, frequentemente usados para silenciar ou atacar mulheres.
3. Direito, liberdade de expressão e limites legais: em muitos países, as leis de difamação exigem provar que a acusação foi falsa, que causou dano e, em casos públicos, que houve malícia ou negligência grave na divulgação das alegações. Isso cria um embate entre liberdade de expressão e proteção contra a desinformação.
4. Impacto pessoal: para Brigitte Macron, trata-se de uma questão de honra, reputação e de restabelecer sua própria narrativa frente a boatos que, segundo o processo, têm sido alimentados com motivação política ou ideológica.
Possíveis desdobramentos
Se o caso for aceito nos EUA, o tribunal poderá determinar punições financeiras e obrigar Owens a retratar-se publicamente ou retirar conteúdos.
Mesmo que aprove, isso não necessariamente deterá todos os boatos ou rumores — parte das teorias conspiratórias resiste mesmo frente a refutação documentada.
O recurso em Paris e eventual decisão do Supremo tribunal francês também terão importância para o precedente legal no país.
Este caso evidencia como notícias falsas deixaram de ser meras teorias à margem e viraram instrumentos de agressão política — exigindo respostas no campo jurídico e institucional.
JN24h.com com informações do G1
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